29 setembro 2007

Prenda de aniversário

Este blogue fez ontem um ano e eu esqueci-me completamente do aniversário. A ideia inicial foi a de falar de música e álbuns de que gosto, novos ou velhos, à medida que os vou escutando, sem qualquer especial critério de selecção. Por aqui, com maior ou menor regularidade ao longo dos últimos 12 meses, fui registando e partilhando as minhas impressões sobre o que, em cada momento, me apeteceu ouvir. Daí que, quando lancei o blogue, tenha escolhido o título de um livro de Paul Auster que me pareceu muito adequado ao espírito ecléctico e errante desta iniciativa. Até agora, estive sózinho na tarefa de ir alimentando este blogue, mas aguardo a estreia de Ipsilon, um novo colaborador, apaixonado por música como eu e que dispõe de um gosto igualmente abrangente, que vai desde a erudita ao rock, passando pelo jazz e por muitos outros estilos. Para assinalar este primeiro aniversário, aqui fica o destaque para um disco do guitarrista Bill Frisell que me acompanhou nas deslocações que efectuei durante as férias que estão hoje em vésperas de terminar. Trata-se de Gone, Just Like a Train, gravado em trio, com o baixista Viktor Krauss e o veterano baterista Jim Keltner. Tem um pouco de alguns dos ingredientes que mais aprecio, incluindo rock, folk e jazz, e o som característico de Frisell, um guitarrista de personalidade bem vincada e identificável a léguas de distância. É a minha prenda de aniversário para quem, por acaso, aterre nestas páginas.

26 setembro 2007

Eu estive lá (nas duas vezes)

Estive ontem no concerto dos Police no Estádio do Jamor e gostei. Não sou adepto das reuniões de velhas bandas, nem deixo de ser. Não há regras nesta matéria. Justificam-se estas digressões quando os músicos estão em forma e preservam as qualidades que os fizeram singrar. Tornam-se penosas de ver quando os veteranos não são capazes de evitar arrastar-se no palco sem gosto, nem empenho, fazendo a coisa numa tentativa patética de recuperar o brilho do passado e, de caminho, ganhar algumas coroas. Houve poucos saltos em cima do palco do Jamor e, 27 anos depois da apresentação dos Police no Restelo, uma parte da frescura foi-se, quanto mais não seja pelo facto de os temas mais desejados já não serem novidade. No Estádio do Restelo, em Setembro de 1980, canções como Don't Stand So Close To Me e De Do Do Do De Da Da Da eram absoluta novidade porque ainda nem tinham sido editadas. Na altura, a banda de Sting, Summers e Copeland ainda só tinha lançado os álbuns Outlandos d'Amour e Reggatta de Blanc. Mas pouco importa. No fim de contas, os milhares de pessoas que encheram o recinto estavam lá precisamente para reescutar, ao vivo, os clássicos de uma das melhores bandas de sempre. E sob este ponto de vista, o concerto de ontem representou duas horas de bom investimento. Sting está bem e ainda é capaz de fazer os agudos mais difíceis quando está para aí virado. Stewart Copeland mantém o seu estatuto de baterista irrequieto e vigoroso, enquanto Andy Summers, bastante mais discreto na pose, continua a ser um guitarrista criativo, passeando entre as referências do rock e do jazz. Message in a Bottle, Walking On The Moon, So Lonely e Roxanne foram apenas algumas das faixas incontornáveis que desfilaram pelo sistema de som para alegria da audiência. Em 1980, a entrada dos Police em palco foi precedida da audição de Voices Inside My Head, de Zenyatta Mondatta, em playback. Ontem, o tema, um dos meus favoritos, foi interpretado numa versão fundida com When The World Is Running Down, You Make The Best Of What's Still Around. Foi bom de ver que estes Police ainda têm muita autoridade. Agora, só falta um álbum de originais e um DVD documentando a digressão.

24 setembro 2007

O regresso de um herói

Posso estar a cometer um erro, mas descontando os dois álbuns iniciais relativos a bandas sonoras de filmes, não conheço mais nada da obra a solo do antigo guitarrista e lider dos Dire Straits, Mark Knopfler. Ou melhor, não conhecia mais nada, porque acabei de escutar a mais recente edição de Knopfler, Kill to Get Crimson, e fiquei rendido. O guitarrista não traz nada de novo, mas isso nem seria de esperar. Assina, no entanto, um álbum cheio de excelentes canções, tocado por uma pequena banda irrepreensível, navegando suavemente pelas águas do folk, dos blues e da pop. Knopfler mantém intacto o seu talento para fazer soar de forma melancólica e cristalina as cordas da sua Fender Stratocaster, os arranjos são impecáveis e esta é uma das grandes surpresas com que me deparei nos últimos tempos. Eis um músico que, pelo que pude constatar, envelheceu muitíssimo bem, o que não é vulgar nestes domínios.

14 setembro 2007

It's only pop (but I like it)

A biografia deste singer-songwritter californiano refere que Richard Swift passou uma boa parte da sua juventude enfiado em casa, a escrever canções e a registá-las num gravador com quatro pistas. Uma parte desse material terá sido utilizado nos seus dois primeiros álbuns, reeditados como um duplo em 2005. A arte de Swift está nas suas capacidades como compositor de temas pop low-fi, com especial destaque para as suas habilidades a trabalhar as melodias. É uma música sem pretensões especiais a que caracterizava aqueles dois primeiros discos e que molda, também, a nova obra que agora está por aí, de título Dressed Up For The Letdown. A revista Uncut, segundo se pode ler na sobrecapa que acompanha o CD, afirma que se trata de um álbum "magnífico". Eu não iria tão longe, mas não me repugna que este novo registo de Richard Swift, contendo dez novos temas, seja premiado com sete estrelas em dez.

07 setembro 2007

Defeito de produção

Primeiro comentário a este disco: a capa é simplesmente pavorosa. E se, tal como se costuma aconselhar em relação aos livros, não se deve julgar um disco pela capa, também é verdadeiro que um embrulho bonito dá mais prazer ao coleccionador compulsivo. Dito isto, vamos ao conteúdo. Joe Louis Walker é um competente bluesman, guitarrista com uma apreciável dinâmica e dotado de uma voz bem adequada aos terrenos que pisa. Em She's My Money Maker, Walker concentra-se na técnica do slide, ocupando uma boa parte do tempo a fazer deslizar o bottleneck pelas cordas. É um disco feito com ânimo e um bom exemplar entre uma escolha de obras recentes que vão mantendo os blues vivos e de saúde robusta. Mas tem um senão que lhe retira força. A produção, assegurada pelo próprio Joe Louis Walker, parece-me defeituosa. A guitarra soa demasiado alto em relação aos restantes instrumentos (teclas, baixo e bateria), o que acaba por ferir o equilíbrio geral. Ninguém é perfeito. E como produtor, Walker parece não ter engenho para fazer brilhar a sua própria música e, neste caso, a banda que o acompanha. Merecia melhor.

03 setembro 2007

Música da rua

Seasick Steve chegou a tocar com John Lee Hooker, mas foi apenas em 2006 que, finalmente, gravou o seu primeiro disco, já sexagenário. Percorreu mundo a partir dos 14 anos, depois de ter deixado a sua Califórinia natal. Primeiro, deambulou pelos Estados Unidos, tocando nas ruas para ir ganhando a vida. Depois, rumou à Europa, acabando por ir parar à Noruega, um local um tanto ou quanto improvável para um bluesman puro e duro. Dog House Music é o disco que marca a sua estreia discográfica. É um exercício praticamente solitário, em que Seasick Steve toca quase todos os poucos instrumentos que se podem escutar, incluindo alguns de fabrico caseiro. A música é crua, passando do seu intérprete para os receptores sem filtragem ou subterfúgios de produção. Tirando uma ou outra ocasião em que a guitarra e a voz surgem acompanhadas pela bateria, nada mais há do que um músico entregue a si próprio e ao seu talento para tocar os blues tal como soaram no dia em que nasceram.

01 setembro 2007

Muitos mais anos depois

Como qualquer adolescente daqueles tempos, conheci os Ten Years After através do clássico Love Like a Man. Acho que não deve ter havido, na minha geração, aprendiz de guitarra que não tenha começado por decorar a malha bluesy que era o prato forte do tema. A Space In Time é um álbum que surge mais à frente na carreira na banda. Depois daquele êxito e após o guitarrista Alvin Lee e os seus restantes três companheiros terem granjeado fama e proveito através da actuação no festival de Woodstock. Por que raio havia eu de me lembrar de ir recuperar este disco de uma banda de que praticamente ninguém se recorda nos dias que correm? Simplesmente porque se trata de um disco com uma meia dúzia de boas canções. Gosto das guitarras acústicas que dominam o trabalho e do riff de One of These Days, tema que abre o álbum. Também não escondo que a capa é daquelas que, naquele tempo, me faziam acreditar que com uma foto como a que nos surge pela frente o conteúdo só podia ser bom. Muita guedelha, muita barba mal aparada e um pouco de natureza a enquadrar o conjunto. Perfeito para uma banda de blues-rock no início dos anos 70.