18 fevereiro 2007

Eu ontem adormeci assim

O suporte em que, pela primeira vez, contactamos com um álbum tem uma forte influência na forma como fica gravado na memória. Houve muitos discos que conheci, e escutei durante largos anos, na versão em vinil. Outros, geralmente emprestados, registei em cassetes de 90 minutos, em que cabia aproximadamente um 33 rotações em cada lado. E estes simples factos mudaram a percepção que tenho, ainda hoje em dia, de dezenas de velhos álbuns. Um LP tinha dois lados e, por vezes, era curioso como se podia gerar uma conversa sobre de qual deles se gostava mais. Podia citar diversos casos exemplares. On The Beach, de Neil Young, é um deles. Na sua versão original, em vinil, tinha cinco temas no lado 1 e apenas três na face oposta. Foi precisamente esta que sempre me atraiu mais. Começava com a canção que dá o título ao disco, de 1975, prosseguia com Motion Pictures e terminava com Ambulance Blues. Era, e ainda é no formato CD, uma sequência de temas dominados por uma melancolia com poderes hipnotizantes, que coloco entre o material mais interessante que Young alguma vez produziu. Ontem, antes de adormecer e recorrendo à tecnologia digital, dispensei aquilo que antigamente era o lado 1 e fui directamente para a melhor zona da praia.