11 janeiro 2007

Keystone, parte 2

Para combaterem as quebras nas vendas de discos, as editoras têm multiplicado esforços para melhorar o produto sem terem de baixar os preços. É assim que eu vejo os cuidados redobrados com as capas dos CD ou as edições com extras que nem sempre justificam a aquisição. Há outras situações em que se junta o útil ao agradável. São os própios músicos que decidem juntar o som à imagem, acrescentando valor, como diriam os economistas, às suas edições. Keystone, de Dave Douglas, é um caso recente. Contém dois discos. O primeiro, que já foi referido aqui num post anterior, está inteiramente preenchido pelo trabalho do trompetista e da sua banda, numa fusão entre a electrónica e o jazz. O segundo inclui dois filmes, de meados dos anos dez do século passado, realizados pelo comediante Roscoe Arbuckle, a que Douglas decidiu juntar bandas sonoras da sua autoria. Ver e escutar este DVD é uma experiência interessante, a começar pelo contraste entre o modernismo da música de Dave Douglas e o hábito de ouvir, nestas situações, o ragtime que ajudou a suprir a ausência de som nos tempos do cinema mudo. Acresce que há um lado de homenagem e de reabilitação neste trabalho, dirigida a um homem que viu a sua carreira destruída pelo envolvimento num escândalo em que não chegou o facto de a justiça ter optado, à terceira decisão, pela absolvição e um pedido de desculpas. A música é boa e dá que pensar.