10 dezembro 2006

Ver e escutar a música de Sassetti

Bernardo Sassetti contou, numa entrevista ao , suplemento do DN, que o projecto para o seu novo álbum, Unreal: Sidewalk Cartoon, partiu do convite que lhe foi dirigido pelo agrupamento de percussão Drumming (GP) para que compusesse música para a banda interpretar. Com base neste desafio, a relação entre as duas partes desenvolveu-se e o fruto acabou por ser a edição deste novo disco. Uma das facetas interessantes de Sassetti está no facto de gostar de explorar novos terrenos, ao mesmo tempo que recusa estabelecer fronteiras para a música que faz. Na mesma conversa, revelou a sua indiferença sobre a questão de saber se aquilo que se pode escutar em Unreal é ou não jazz. Ainda bem, porque aquilo de que a música mais precisa é de espíritos livres como o de Bernardo Sassetti. Unreal surge na sequência de Ascent e Alice, completando uma trilogia na obra do pianista em que música e imagem se enlaçam. É um disco muito diferente dos anteriores, logo à partida pelo facto de os seus alicerces estarem na percussão, a partir da qual parece que tudo o resto é construído. Outra sensação que a sua audição transmite, é a de que, dos três álbuns em causa, é o mais "cinematográfico" e, por isso, aquele que menos dispensa a visualização das imagens e da ficção que lhe estão associadas. Não quero com isto dizer que a música em Unreal não tem suficiente poder de sugestão para que quem a escute não possa dar por si a imaginar situações. Mas funciona, acima de tudo, como um poderoso incentivo para ver a apresentação do projecto com tudo o que para ele foi planeado. Sem imagem, falta algo de essencial para compreender a música de Unreal. É como escutar uma ópera sem nunca a ter visto.