08 dezembro 2006

Se o tempo voltasse para trás

Li alguns elogios ao novo disco dos The Who, agora reduzidos a Roger Daltrey e a Pete Townshend no que se refere a elementos da formação original, depois das mortes de Keith Moon e de John Entwistle. No essencial, era louvado o regresso da banda ao som que a caracterizou em álbuns como Who's Next e Quadrophenia. A expectativa era, por isso, a de reencontrar os poderosos riffs de Townshend na guitarra, sobrevoados pela raiva ou pela doçura que, alternadamente, Daltrey sabia colocar na voz. Não se pode dizer que a audição de Endless Wire deixe frustrado quem nela se aventure. Os riffs explosivos continuam a morar aqui. E embora a qualidade das canções perca, em geral, na comparação com aquilo que os The Who fizeram nos seus melhores tempos, há bons momentos a registar. São os casos de Man in a Purple Dress, a entrada de Mike Post Theme, God Speaks of Marty Robbins e, ainda, alguns dos temas que integram a mini-opera intitulada Wire & Glass que encerra o disco, sendo esta a parcela mais feliz de toda a obra e a que mais justifica o facto de Daltrey e Townshend terem decidido voltar aos estúdios para gravar sob o nome The Who, 24 anos após a edição do anterior álbum de originais da banda. Acontece, porém, que a voz de Daltrey já perdeu uma boa parte do seu potencial e a tentação de auto-plagiar o arranque de Baba O'Rilley logo no início do disco, no tema Fragments, deixam uma vaga sensação de mal-estar. Em resumo: aquilo que é bom em Endless Wire não envergonha o legado dos The Who para a história do rock. Mas soaria bastante melhor se ainda estivéssemos na primeira metade dos anos 70. Não por uma questão de moda, mas porque o tempo é impedioso para quem pratica o género de música em que os The Who se distinguiram.