23 maio 2007

Como tramar um berbequim

Um dos mistérios insondáveis no prédio em que habito está no facto de haver um vizinho, ainda não descobri qual, que tem o passatempo de furar paredes. Desde que se mudou para cá, não há dia, a começar logo pela manhã, em que não se escute o ruído do berbequim a abrir caminho pelo estuque dentro. Suponho que, por esta altura, a casa deva estar parecida com um queijo suíço. Desde que não deite o edifício por terra, não é problema meu. Apenas gostaria que perturbasse menos o sossego alheio. Mas, enfim, como se costuma dizer, é a vida. Para combater a poluição sonora, não há como escolher um disco que consiga erguer uma muralha de som. E quantos mais instrumentos, melhor. Hoje, perante nova investida deste indefectível adepto da Black & Deker, rodei o botão do volume para níveis habitualmente pouco frequentados enquanto escutava Inside Out, do trompetista Randy Sandke. O disco é apresentado como um encontro entre o mainstream e a "nova música" e, de facto, é mesmo disso que se trata. Tocado por um noneto em que figuram vedetas como Ray Anderson, Wycliffe Gordon ou Uri Caine, é uma espécie de clássico moderno, suficientemente poderoso para dar luta ao ataque de um berbequim.