08 abril 2007

Rock, blues e muita cerveja

Rory Gallagher merecia ser recordado com mais frequência, mas a sua intensa dedicação ao rock e aos blues é, actualmente, uma questão reservada a fãs saudosos das suas actuações incendiárias. Como a que o guitarrista irlandês protagonizou algures pelos finais dos anos 70 em Cascais, acompanhado em palco apenas por um baterista e um baixista que se limitavam a construir a base rítmica sobre a qual Gallagher fazia explodir os seus riffs e solos. A intensidade da sua música ajustava-se na perfeição às prestações ao vivo. Em estúdio, a vivacidade e a urgência com que tocava perdiam uma boa parte da alma. Faltava-lhe o fumo e a cerveja, fazendo desconfiar que, se fosse forçado a actuar numa sala como as que nos dias que correm não admitem esse género de transgressões, Rory Gallagher jamais teria deixado para a posteridade álbuns como Irish Tour, um duplo registado ao vivo que muito candidato a guitarrista adoptou como uma espécie de manual de aprendizagem. Não é obra que se aconselhe a escutar todos os dias. Não dá descanso e exige disponibilidade para tanta energia. Mas deve ser objecto de revisita periódica, como homenagem a um guitarrista que desapareceu demasiado cedo.