23 março 2007

Não havia necessidade

Esta história de músicos de rock fazerem, aqui e ali, incursões por mundos que lhes são estranhos nem sempre dá bons resultados. Houve um tempo em que a obsessão pela conquista de respeitabilidade levou algumas bandas a gravaram discos com grandes orquestras sinfónicas, o que na maior parte das vezes se resumiu a um exercício de pretensiosismo bastante bacoco. A música tem estilos mas não deve ter fronteiras, sob pena de empobrecer os resultados. Mas daí a achar, por exemplo, que faz sentido alguém como Sting se meter, e afundar, numa tentativa de interpretar alguns temas do repertório de John Dowland, músico britânico que, pela época do Renascimento na Europa, compôs peças brilhantes para alaúde e voz, vai uma enorme distância. Pelo que me foi dado ver e ouvir num documentário sobre a gravação do disco em causa, em que, além da música de Dowland, Sting inclui versões de grandes êxitos da sua carreira acompanhado de alaúde, a aventura não correu da melhor forma. À voz do, de novo, líder dos The Police, faltam a profundidade e a emoção necessárias para expressar a melancolia da música de John Dowland. O disco nem sequer chega a ter graça, quando encarado como mera curiosidade. Posto isto, o que se deve fazer é escutar Dowland como ele merece ser descoberto. Um dos discos da obra integral para alaúde, executada por Paul O'Dette, é uma boa ideia. Quanto a Sting, não havia necessidade.