01 novembro 2010

Um disco poderoso

Costumo receber com desconfiança as notícias sobre um disco gravado por um músico de rock ou pop acompanhado por uma orquestra. Faz-me lembrar algumas experiências falhadas, embora pretenciosas, quando entre o final dos anos 60 e o início dos anos 70 algumas bandas de rock e pop tentaram conquistar "respeitabilidade". Não podiam esperar pelo teste do tempo. Queriam ganhar, de imediato, o direito a serem reconhecidos nos meios "eruditos" e, para isso, não chegava o seu talento naquilo em que eram bons. Era preciso colocar umas dezenas de violinos e violoncelos a interpretar as suas canções ou as suas tentativas de criarem peças sinfónicas. Quando soube que Peter Gabriel tinha decidido lançar um álbum de versões apenas acompanhado de uma orquestra fiquei apreensivo apesar de ser um admirador de longa data do antigo líder dos Genesis. Às primeiras audições de Scratch My Back não fiquei deslumbrado. Mas, agora, dou-me por convencido e até acho que é um dos grandes discos de sempre de Gabriel. Os arranjos são irrepreensíveis, poderosos, e Peter Gabriel não se limita a seguir os originais. Reinventa as canções, descobre-lhes novos ângulos, como quem lê um livro pela segunda vez e vislumbra aspectos que tinham passado despercebidos e os decide partilhar. Pode constatar-se isto em The Boy In The Bubble, Mirrorball, Listening Wind ou My Body Is A Cage, de gente tão diferente como Paul Simon, Elbow, Talking Heads ou Arcade Fire. E a boa nova é que ainda há mais do que estes nomes para desfrutar. Em Scratch My Back, Peter Gabriel não faz um disco de versões. Pega em 12 temas e oferece-nos a sua leitura, fortemente personalizada. É um disco a não dispensar. Não provoca comichão nas costas mas faz arrepios na espinha.

Para escutar My Body Is a Cage, clicar aqui.

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