31 julho 2007

Um êxito para começar

Já aqui manifestei a opinião de que muitos apreciadores de música que afirmam não gostarem de jazz podem ficar a dever essa antipatia pelo facto de terem entrado, ou de terem sido induzidos a entrar, neste vasto e fascinante terreno pela porta errada. De alguma forma, exigir que um recém-chegado adira ao jazz começando por escutar discos de grandes nomes do free, é um absurdo semelhante ao de tentar adaptar ouvidos à música erudita iniciando a jornada de descoberta através da audição de obras dos mais complexos compositores contemporâneos. A verdade é que a história do jazz está semeada de grandes êxitos. São dúzias de temas acessíveis de que qualquer pessoa pode gostar desde a primeira apresentação. Do meu ponto de vista, é precisamente por aqui que se deve começar. Para quem estiver tentado a fazer a experiência, aqui deixo a sugestão de que escutem Moanin', de Art Blakey & The Jazz Messengers. A introdução é imediatamente reconhecível. Depois, é só deixar correr o tema e perceber que, afinal de contas, o jazz deixa-se ouvir.

27 julho 2007

Higiene matinal, II

Tenho-me mantido, nos tempos mais recentes, agarrado aos blues. E hoje decidi recuperar um disco em que não colocava as mãos já há algum tempo. É de Otis Taylor, um dos mais estimulantes reinventores do género. É um adepto da pesquisa de novas propostas a partir das raízes dos blues rurais e é capaz de lançar desafios tão interessantes como o de misturar a solenidade e melancolia dos violoncelos com as guitarras e as harmónicas. Por agora, dou-me por muito satisfeito por ter retomado o contacto com Double V, disco muito celebrado quando da sua edição em 2004.

17 julho 2007

Higiene matinal

De vez em quando, é essencial limpar o sistema auditivo com um regresso aos blues. Faço-o com alguma frequência e quase sempre com enorme prazer. Desta vez, o músico contemplado foi Joe Louis Walker, um guitarrista que conjuga a energia hipnótica primordial dos blues com a religiosidade do gospel, decorando esta fusão com solos executados com convicção contagiante. Entre as suas gravações mais recentes, destaca-se In The Morning, que mereceu hoje ser transportado para o carro com o objectivo de animar as deslocações suscitadas pelos deveres profissionais. É tudo bom, mas o instrumental 2120 South Michigan Avenue mereceu duas ou três repetições.

10 julho 2007

Viva Binney!

Acabei de descobrir que, apesar de ser um seguidor atento da sua obra, ainda só citei um disco de David Binney ao longo da vida ainda curta deste blogue. Hoje, apeteceu-me escutar um dos discos deste saxofonista alto. É um daqueles nomes que, habitualmente, está arrumado nos escaparates do jazz contemporâneo. Trata-se de uma classificação como qualquer outra. Serve para uma pessoa se orientar na pesquisa de novidades, realmente novas ou velhas, mas não diz tudo sobre o que se pode encontrar sob aquele rótulo. Binney é um óptimo executante. Mas, muito mais importante, é o facto de as suas gravações serem partilhadas por músicos que, pelo empenhamento que evidenciam, conseguem transmitir a quem os escuta um entusiasmo autêntico pelas composições do saxofonista. É na composição que David Binney mostra o seu melhor. Escutem-se, pelo menos, os temas Lisliel ou Frez, do álbum Welcome to Life, e ficar-se-á a perceber o que quero dizer quando me dou à pretensão de assegurar que Binney é um músico especialmente talentoso no equilíbrio entre a criação de música inovadora, viva, acessível, emotiva, desafiadora para quem a toca e ouve. Viva Binney!

02 julho 2007

Frutos suculentos

Algures nos arquivos deste blogue, relativos a Novembro de 2006, escrevi um texto laudatório sobre o disco de estreia dos B-52's. Como ficou registado, acho que é um dos grandes álbuns de sempre da pop e nada, ou quase nada, voltou a soar de forma semelhante. Nem sequer a própria banda conseguiu voltar a fazer algo tão inovador e surpreendente. E houve que esperar dez anos, entre 1979 e 1989, para voltar a escutar um álbum dos B-52's realmente merecedor de atenção e de encómios. Foi naquele ano que surgiu Cosmic Thing, um disco que não tem a veia desbravadora de novos caminhos que caracterizou o álbum de estreia da banda, mas que é uma notável colecção de canções pop, com o toque de loucura, humor e festança que sempre esteve associado aos B-52's. Entre os pontos altos, estão temas como Love Shack, Deadbeat Club e Roam. As vozes de Cindy Wilson e Kate Pierson são dos frutos mais suculentos da história da pop.