29 junho 2007

Blackbird, finalmente

Acho que já deu para perceber que ando numa fase revivalista dos Beatles. De vez em quando, dá-me para isto. E quando a ocasião surge, geralmente concentro-me nos temas produzidos pela banda durante a segunda metade dos anos 60. Um dos estímulos mais recentes para regressar à obra dos fab four esteve no facto de, finalmente, me ter dado ao trabalho de aprender a tocar Blackbird na guitarra. A Internet é uma poderosa ferramenta para encontrar as mais diversas tablaturas e, no caso em apreço, revelou-se decisiva para me permitir aprender todas as "malhas" desta pequena preciosidade incluída no White Album. Ao contrário do que sucede com muitos apreciadores dos Beatles, não acho que este seja o seu melhor álbum, e um dos motivos está na circunstância de achar que é o resultado de esforços individuais, muito mais do que um verdadeiro trabalho de equipa. Ainda assim, integra muitas canções históricas, como While My Guitar Gently Weeps, ou outras menos badaladas, como Dear Prudence, que estão entre as minhas favoritas de sempre. Blackbird é a cereja por cima deste bolo.

25 junho 2007

A celebração de Neil Young

Neil Young está bem consigo próprio. Esta é a primeira sensação que se retira do visionamento de Heart of Gold, o DVD que testemunha um excelente concerto, em que Young passa em revista a sua já longa carreira, com paragens em muitos dos temas marcantes de diferentes épocas do seu percurso. Rodeado de uma banda competentíssima, o músico canadiano concentra-se no country e na folk, os estilos em que, do meu ponto de vista, Young obteve melhores resultados. O concerto é pontuado por intervenções curtas, em que Neil Young reforça a ponte de comunicação que estabelece com a audiência, contando pequenos episódios com alguma relação com o tema que vai tocar a seguir. Este é um grande acontecimento, com uma óptima realização e um som igualmente de grande qualidade.

21 junho 2007

Quanto mais velho, melhor?

A propósito de Beatles, Paul McCartney e John Lennon foram os antigos elementos da banda de Liverpool que menos me entusiasmaram no período posterior ao da separação. De forma geral, achei os seus trabalhos insípidos, banais, parecendo que a ambos faltava a sua outra metade. Depois, o excessivo envolvimento das respectivas mulheres nos seus álbuns sempre me pareceu despropositado, dada a total ausência de credenciais musicais de Yoko e Linda. Para completar, os temas em que lançavam farpas e desabafavam ressentimentos contra o ex-parceiro evidenciavam um lado mesquinho que diminuia tudo o que de genial um e outro fizeram nos anos 60. Tudo isto vem a propósito do novo disco de Paul McCartney, Memory Almost Full. Para minha surpresa, é um grande álbum, tem canções à altura dos talentos de melodista do ex-Beatle, sendo que a minha favorita, por agora, é Ever Present Past. Fico satisfeito, sempre que um antigo elemento dos Beatles faz um bom álbum, o que foi relativamente raro desde a sua separação.

19 junho 2007

Beatles, depois dos Beatles

Se me pedissem para escolher o melhor álbum gravado por cada um dos quatro ex-Beatles nas suas carreiras a solo, eu não hesitaria nem por um segundo. Apontaria All Things Must Pass, o álbum que, na sua edição original, continha três discos, dois de canções e um terceiro com o registo de "jam sessions" realizadas durante a gravação. George Harrison acumulou muito material de enorme qualidade enquanto era guitarrista dos "fab four", banda que viveu de forma quase esmagadora à custa das composições da dupla Lennon-McCartney. E quando os Beatles deram o triste pio, tinha canções para fazer um album notável, à custa de Beware of Darkness, I'd Have You Anytime, What is Life ou, até, a faixa melancólica que fornece o título à obra. Aqui fica a sugestão de um regresso retemperador a uma obra-prima da pop, na versão remisturada pelo próprio George Harrison.

18 junho 2007

Vem aí o Verão, III

Aqui fica uma graça. Faz-me lembrar outros verões, em tempos idos, quando a new wave foi acompanhada de uma onda de revivalismo do ska. Tudo começou há 30 anos com a explosão do punk. The Specials foram um dos nomes que chegaram com a maré e impuseram-se. Não lhes liguei grande coisa na época, porque andava virado para material um pouco mais "sério". Agora, à distância, canções como A Message to You Rudy e Do The Dog deixam-me bem disposto, embora também um pouco melancólico. Fiz o respectivo download, legal sublinhe-se, em conjunto com outros temas que andaram pelas rádios na altura do seu aparecimento e tenho-me divertido à grande com a audição. Excelente anti-depressivo.

13 junho 2007

Vem aí o Verão, II

E aqui vai uma segunda proposta para os dias de calor em que espero que eu e os leitores deste blogue tenham a oportunidade de descomprimir e mandar às malgas as responsabilidades profissionais. Trata-se de mais um trio que me foi apresentado há uns dias. Na liderança da banda está o guitarrista Björn Vidar Solli, seguindo-se o orgão de Daniel Formo e a bateria de Truls Ronning. São três belíssimos improvisadores, que honram as tradições deste formato na história do jazz, partindo dos terrenos modelados pelos clássicos para fazer música fresca, impulsiva, a que se adere sem resistência. O álbum chama-se Solid! e parece-me ser um título honesto e adequado ao que o trio nos dá a escutar.

12 junho 2007

Vem aí o Verão

Agora que o Verão está aí à porta, está na hora de começar a preparar alguns discos que, ainda que escutados em casa, evocam um fim de tarde passado numa esplanada a escutar música merecedora de atenção e gratificante. End of the World Party (Just in Case) é uma primeira proposta. Não sou grande conhecedor da obra deste trio, Medeski, Matin & Wood, mas o disco em apreço conquistou-me. Há um pouco de jazz, um pouco de pop, tudo embrulhado em funky-grooves. Mas atenção: os músicos são bons, não se resumem a colar meia dúzia de samples, aproveitam o tempo para se divertirem, e nos divertirem, com alguns solos bem atacados. No fim, ficamos de bem com a vida, com vontade até, de dar um pé de dança ao som da batida contagiante da maior parte dos temas. Com música assim, até pode chover que ninguém fará caso.

09 junho 2007

Memórias de uma injustiça

Bem sei que o mundo não é um lugar justo e que há muitos músicos que têm grande dificuldade em ver os seus talentos reconhecidos pelo público. Um dos casos é este pianista, João Paulo Esteves da Silva, instrumentista e compositor de grande nível, que já leva alguns bons anos de carreira discográfica mas que tenho a impressão de que tem sido mal amado. O seu trabalho mais recente, Memórias de Quem, é um exemplo. Esteve por aí nos escaparates durante uns dias, numa tentativa de o promover que pecou por demasiado fugaz, tendo em consideração o seu conteúdo. João Paulo regressa a solo, em grande forma, com temas que vão contrastando. Desde as melodias que evocam tradições portuguesas, de que se pode invocar Mi Alma, a passos mais ousados como O Incêndio. É um grande disco de piano. Recomenda-se a quem queira escutar boa música feita em Portugal e que, já agora, esteja na disposição de reparar uma injustiça.

08 junho 2007

Momento desinspirado

Cá está outro daqueles músicos de pop de quem sou capaz de comprar os discos sem sequer os ouvir. Não me tenho dado mal com a situação e o anterior álbum de Josh Rouse, Subtitulo, foi uma surpresa esmagadora quando tive a oportunidade de chegar a casa e desfrutá-lo. Desta vez, porém, enganei-me. Depois de uma série de álbuns cheios de canções capazes de encher os ouvidos e o espírito, Country Mouse sabe a pouco. Sabe, essencialmente, a falta de inspiração. É um desfile de temas que soam a terreno pisado e repisado pelo próprio Rouse, exceptuando um ou outro momento menos desinspirado. Parece que está na altura de Josh Rouse tirar umas férias para tentar regressar em pico de forma.

06 junho 2007

Gilmour a solo

Gostava da voz de David Gilmour, antes de o tempo e os esforços acumulados não lhe terem dado cabo daqueles agudos serenos. E foi por mera nostalgia que, há uns dias, decidi adquirir aquele foi o seu primeiro álbum a solo. Para além da voz, indissociável de alguns dos momentos mais notáveis na carreira dos Pink Floyd, Gilmour era, e acho que ainda é, um dos grandes guitarristas do rock. O disco em causa não é nada do outro mundo e alguns dos temas poderiam ter sido incluidos, talvez com outros arranjos, num álbum da banda a que David Gilmour dedicou a maior parte do seu percurso como músico. Gosto, sobretudo, do instrumental que abre o disco, com uma atmosfera muito próxima de Animals, e de There's No Way Out of Here. O resto vai tendo graça, aqui e ali, mas é banal.

04 junho 2007

Liberdade e rotina

Electrónica, bossa-nova, ritmos caribenhos, pop e canções que soam como uma suave brisa escutada numa esplanada à beira-mar num dia em que, provavelmente, nem sequer estará bom tempo para uma pessoa se estender na areia e desfrutar do sol. É assim que a música dos The Sea And Cake me soa. Depois de ter adquirido o álbum mais recente da banda, e sendo já proprietário dos dois discos a solo do guitarrista Sam Prekop, empreendi a tarefa de descobrir as edições anteriores do grupo. Com algumas diferenças na preponderância de um ou outro ingrediente, há muita coisa para desfrutar no trabalho dos The Sea And Cake. Para já, Oui está na minha playlist, com direito a ser escutado todos os dias de manhã nas viagens para o trabalho e de regresso a casa. É como respirar alguma liberdade antes e depois de um dia longo a tentar respirar pelo meio da poeira da rotina.

02 junho 2007

Laginha no seu melhor

Aqui está mais um disco para alimentar, com elevadas calorias, o meu apetite muito particular por trios de piano. Mário Laginha é um dos grandes instrumentistas portugueses nesta disciplina e, pedindo desculpa por não agradar a muitos apreciadores da cantora, não me parece que o seu melhor esteja nas parcerias que tem gravado com Maria João. Por mim, muito simplesmente, prefiro escutá-lo quando assume o protagonismo. As melodias deste Espaço são irresistíveis e, caramba!, o homem é um pianista de mão cheia que, ainda por cima, está acompanhado de um contrabaixista e um baterista que brilham e ajudam o mestre a brilhar. Querem escutar boa música feita por portugueses? Pois, então, agrarrem este disco.

01 junho 2007

Os militantes e os outros

Como qualquer leitor que já tenha perdido algum do seu precioso tempo a ler as páginas deste blogue poderá perceber, gosto muito de jazz. Mas ainda gosto mais de música, o que significa que não esgoto a minha atenção num ou noutro estilo. Pelo contrário. Tenho a preocupação de escutar um pouco de tudo em busca de novas fontes de prazer. Sim, no que toca pelos menos à música, não haja dúvidas de que sou um puro hedonista. É por isso, e sobretudo por acaso, que por aqui vão desfilando os álbuns mais diversos de acordo com aquilo que me apetece escutar em cada momento. Hoje, decidi fazer vibrar os tímpanos com um disco dos Psapp. Optei pela sua edição mais recente, The Only Thing I Ever Wanted. Mistura electrónica, ruídos de percussão invulgares como o som de gravilha a ser lançada no chão, vozes femininas tão indiferentes que conseguem abanar a indiferença de quem as ouve. É um disco indispensável. Desde que se goste de música e não se seja apenas militante de um qualquer estilo.